Conhecido na internet como “o melhor presidente que o Brasil não teve”, Enéas carneiro caiu no gosto dos internautas por seus discursos e entrevistas absurdamente eloquentes que uniam, até certo ponto, a alta erudição com o cômico contemporâneo. Sua fala firme e seu forte apego a princípios morais que para ele eram irrevogáveis, transmitiam, na época, uma mensagem interpretada pela mídia como ameaçadora a um país que mal acabava de sair de um regime totalitário dominado pelos militares por mais de três décadas.

Enéas era um homem erudito. Formou-se em medicina pela escola do exército brasileiro e tinha seu consultório de cardiologia na rua Visconde de Pirajá, no bairro de Ipanema, Rio de Janeiro. Também foi o primeiro deputado federal mais votado do Brasil no pleito de 2002, tendo mais de 1 milhão de votos em toda a federação. Era também professor de várias disciplinas, inclusive o Português, mas foi ensinando medicina que ele chegou a dar aula para mais de 20 mil médicos.

Na política, Enéas pregava o estabelecimento de um estado forte, onde se ensinava o respeito à lei e a ordem. Denunciou veementemente a postura da mídia por distorcer os fatos referentes à sua pessoa e também por não dar destaque a assuntos de suma importância, segundo o ponto de vista dele.

Ao contrário do que se pensa, Enéas Carneiro não era autoritário, marxista ou fascista. Ele era médico cardiologista, físico, matemático, professor, escritor e político brasileiro. Tratava todas as classes com respeito e não fazia ameaças ou ofensas gratuitas que, na maioria das vezes, causam divisões por fomentarem o ódio, o ostracismo e a segregação social. Estava sempre aberto ao diálogo e o fazia com inteligência que, até para os dias de hoje, continua à frente do seu tempo.

Bolsonaro está completamente aquém das ideias, do vocabulário, do nível erudito, cultural e intelectual que Enéas Carneiro representava. A dificuldade que os eleitores de Bolsonaro têm de fazer associações por colocá-lo em par de igualdade com um mestre do gabarito de Enéas, denuncia a consciência frágil e imatura das pessoas que foram seduzidas por um discurso odioso que representa superficialmente um sentimento vaidoso e passageiro, cuja vazão descontrolada pode espalhar a tragédia a níveis ainda imprevisíveis em todas as unidades federativas.

Ainda mais chocante é o fato de que temos de aceitar que a religião do seguimento evangélico, motivada por interesses e critérios suspeitos, dão todo o seu apoio ao que pode ser a reprise ampliada de uma colonização sangrenta que, de certo, não precisamos ver de novo.

 

Agência Indicatu – SP/BR – 15/10 de 2018

Texto: Silvio Ramos -  Redator e colunista em revistas, blogs e portais de notícias