Existem, basicamente, três fases nesse processo – a unção, a selagem e a ação do espirito na pessoa. Assim, é apropriado voltarmos à base de tudo para entendermos como ocorre a escolha de um indivíduo para o cargo de rei e sacerdote no céu, onde servirão durante os mil anos do reinado de Jesus Cristo (Apocalipse 20:4, 6).
Como tudo começou
As unções começaram a acontecer assim que Jeová estabeleceu a adoração organizada através de um pacto com a nação de Israel. O processo envolvia um rito sagrado instituído por Deus que deveria ser seguido à risca a partir dali para se ungir pessoas e objetos para o serviço sacerdotal. Na íntegra, temos o seguinte:
“22 E Jeová disse a Moisés: 23 “Providencie também os perfumes mais seletos: 500 unidades de mirra solidificada; a metade dessa quantidade, 250 unidades, de canela aromática; 250 unidades de cálamo aromático; 24 também 500 unidades de cássia — tudo segundo o siclo-padrão do lugar santo; e um him de azeite de oliva. 25 Então faça com essas coisas um óleo sagrado de unção, que deve ser preparado com habilidade. Ele deve ser um óleo sagrado de unção. 26 “Você deve usá-lo para ungir a tenda de reunião, a Arca do Testemunho, 27 a mesa com todos os seus utensílios, o candelabro com os seus utensílios, o altar do incenso, 28 o altar da oferta queimada com todos os seus utensílios e a bacia com o seu suporte. 29 Santifique-os para que se tornem santíssimos. Todo aquele que tocar neles deve ser santo. 30 E você ungirá Arão e seus filhos, e os santificará, a fim de que sirvam como sacerdotes para mim. 31 “Você dirá aos israelitas: ‘Esse deve continuar sendo um óleo sagrado de unção para mim, por todas as suas gerações. 32 Não deve ser passado no corpo de ninguém, e vocês não devem fazer nada com a mesma composição dele. Será algo sagrado. Deve continuar sendo algo sagrado para vocês. 33 Quem fizer um óleo semelhante a esse e quem o passar numa pessoa não autorizada será eliminado do seu povo.’”” (Êxodo 30:22-33) – TNM 2015.
As unções atuais não se dão mais assim, mas por espírito santo. Contudo, a ordem em que isso acontece, e o seu propósito, não mudam. As pessoas e coisas ungidas com aquele óleo tinham o seu rito concluído quando elas começavam a operar naquelas funções. Em síntese, a passagem do óleo sagrado de unção era um símbolo do que aquelas pessoas e coisas estavam, a partir de então, apropriadas a fazerem e a servirem. O óleo sagrado era um sinal visível e olfativo de que pessoas e coisas foram postas à parte para um dever sagrado. Era no ato da ordenação dos sacerdotes, com todos aqueles ritos, que o indivíduo tinha a certeza de que ele havia sido ungido para aquele propósito. Dizer Deus que aquilo era restrito a um grupo de pessoas e coisas e que, se alguém não autorizado fizesse uso daquele óleo seria condenado à morte, torna claro que as pessoas e coisas autorizadas através do óleo sagrado de unção eram santas e deveriam ser tratadas como tal. A função do sacerdócio – o que incluía não só as pessoas, mas também os objetos -, era servir ao povo que estava à parte do sacerdócio a fim de se fazer expiação pelos pecados dele. O sacerdócio estava, assim, em posição elevada em relação ao restante do povo, apesar de aquele ser um só povo. Entendendo isso, somos capazes de compreender a função do atual sacerdócio, cuja a causa está muito além da unção de um indivíduo.
O testemunho do espírito
O apóstolo Paulo, um cristão ungido, falou das fases da unção em uma carta aos Coríntios:
“21 Mas aquele que garante que nós e vocês pertencemos a Cristo, e quem nos ungiu, é Deus. 22 Ele pôs também o seu selo sobre nós e nos deu a garantia daquilo que virá, isto é, o espírito, em nosso coração.” (2 Coríntios 1:21, 22) – TNM 2015.
Aqui nós temos “unção, selo e espírito”, nesta ordem. Isso quer dizer que, primeiro Deus unge a pessoa. Depois ele sela essa pessoa; e depois ele dá a ela o seu espírito santo. Entretanto, Ele usa o mesmo espírito para fazer as três coisas. Confusão? Não. São etapas do processo de unção. Paulo fala aí do espírito como sendo “aquilo que virá” depois de ele falar da unção e da selagem. Quer dizer que Paulo, um ungido, não tinha o espírito santo no coração e, por extensão, todos os ungidos não o tinham? Não. Note que a citação do espírito como sendo “aquilo que virá” é dita após ele falar de “Deus pondo o seu selo nos ungidos”. Isso sugere que “esse espírito que viria” pode se referir à mudança de estado de carne para espírito. Significa que, uma vez selado, o ungido teria como garantia a sua vida imortal no céu com um corpo espiritual. Pode também significar que, em um certo momento da sua vida após a selagem, o espírito santo dá ao ungido a indicação do iminente fim da sua carreira terrestre como cristão fiel. Uma vez selado, não há a possibilidade de esse ungido se tornar infiel e perder a sua esperança de vida imortal no céu. Esse espírito pode ser dado com dias de antecedência ou no instante da morte do indivíduo enquanto ele ainda está consciente (2 Timóteo 4:7, 8). Visto que Jeová conhece os corações, pôr Ele esse selo em alguém é evidência da confiança que ele tem nessa pessoa, que ela não se tornará infiel após a selagem. Mas se a selagem era a certeza do testemunho do espírito no coração do ungido dizendo para ele que a sua salvação estava garantida, por que Deus não faz as duas coisas de uma vez só? São etapas do processo. A “chegada do espírito no coração do ungido” após sua selagem é um indicativo de que a morte dele na carne é iminente e que logo ele estará no céu com um corpo espiritual. É como se Deus dissesse para ele: “você vai morrer em breve e está aprovado como rei e sacerdote para o reino dos céus” (Deuteronômio 31:14, 16). É digno de nota que isso não deve ser considerado do ponto de vista dos viventes, pois, a perspectiva de tempo para estes é diferente da dos ungidos mortos no primeiro século. Como assim? É que a morte é um sono. Para o ungido que morreu lá no primeiro século e que foi ressuscitado agora no tempo do fim, a morte foi como um simples sono de uma noite, ao invés de séculos adormecido na morte. Sintetizando, o ungido percebe essas três coisas: quando ele é ungido; quando ele é selado, e quando ele recebe o testemunho do espírito de que a sua morte como cristão fiel é iminente e que lhe aguarda o reino dos céus.
Por que Deus faz isso por etapas?
É porque os ungidos são imperfeitos e cometem pecados. Isso pesa muito para que Deus ponha neles o seu selo de aprovação e lhes deem a garantia de que estão aprovados para o reino dos céus, pois eles precisam ser provados com fogo antes de receberem o selo (1 Pedro 1:7). Por isso, até mesmo eles não têm certeza da salvação até serem selados. Desse modo, da unção à selagem leva mais tempo do que da selagem à chegada do espírito indicando-lhe de que a sua morte como servo leal de Deus está próxima. Mas se os ungidos cometem pecados, que garantia há de que alguém que professa ser ungido o é de fato? Alguma coisa Deus vê no coração dessa pessoa que Ele não vê no dos demais, e por isso ele decide ungi-la. É ele quem decide isso, e não nós. Nunca haverá unção de pessoas perfeitas para o cargo de reis e sacerdotes no reino de Cristo. Todos os ungidos até agora são imperfeitos e pecadores no sentido de serem herdeiros do pecado. Mas há uma grande diferença entre ser “herdeiro do pecado e fazer do pecado uma prática”. Os ungidos pecam por tropeçarem devido à imperfeição, e não porque são pecadores impenitentes. Aliás, o Diabo se vale disso para acusa-los perante Deus:
““Agora se realizou a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, porque foi lançado para baixo o acusador dos nossos irmãos, que os acusa dia e noite perante o nosso Deus!” (Apocalipse 12:10) – TNM 2015.
Como a pessoa sabe que foi ungida?
Essa pergunta não faz sentido por, pelo menos, dois motivos. O primeiro é que o ungido tem certeza de que recebeu de Deus esse chamado e não precisa que alguém afirme isso para ele. O segundo é que ninguém pode contestar isso, uma vez que o testemunho é invisível, dado no coração do indivíduo, e só ele e Deus, que o ungiu, sabem disso. Por isso, não faz sentido explicar para alguém como é ser ungido porque a pessoa que não é não irá entender. A unção não se explica. Ela se vive e se sente. Isso quer dizer que, se alguém “acha que é ungido ou ungida”, é porque tal pessoa não tem certeza disso, e se ela não tem certeza é porque ela não foi ungida, não recebeu de Deus o chamado para a vida nos céus.
Por que não é bom perguntar para alguém se ele é ungido?
Porque ninguém pergunta algo assim sem um motivo. Normalmente, a pessoa a quem se pergunta se destaca por causa de algumas habilidades notáveis e isso desperta a curiosidade de alguém sobre se tal pessoa é ungida. Isso pode ser um problema porque a pessoa pode imaginar que “ela era ungida e não sabia” e passa a ter conclusões equivocadas. Isso também pode levar alguns a supor que a ciência de se ser ungido leva algum tempo até a pessoa “perceber que é”. Entretanto, com base nos precedentes que consideramos até agora, tanto no arranjo original da lei mosaica, quanto no atual, a unção de alguém por Deus se dá sem nenhum lastro de dúvidas. A pessoa sabe que é. Conforme vimos, há etapas nesse processo, mas isso não dificulta que a pessoa que recebeu o chamado se convença de que o recebeu. O próprio Deus não faria algo assim para deixar o indivíduo na dúvida de se ele é ou não um ungido.
Coisas que os ungidos sabem
Os cristãos ungidos vivem em sintonia com o propósito teocrático de Deus. O espírito que opera neles é um só. Não convém dizer certas coisas nem entrar em certos detalhes. Mas pode-se dizer que o impacto emocional e espiritual neles de coisas relacionadas com a vida dos do rebanho de Deus é mais forte neles do que em outros e é dado a eles primeiro (Lucas 12:48). Eles sofrem quando há pecados escondidos ou coisas sérias até então não resolvidas; e isso vai além de membros da congregação a que fazem parte. Esse é um dos motivos de não entrar em certos detalhes e é também por isso que faz todo o sentido dizer que a unção não se explica. Ela é vivida e sentida.
Reis e sacerdotes
No arranjo original citado no início, o reino era separado do sacerdócio. Quem era rei não podia servir como sacerdote, e vice-versa. No caso atual, os ungidos atuarão como reis e sacerdotes nos céus, tendo Jesus como Sumo Sacerdote (Apocalipse 1:6; 20:4, 6; Hebreus 6:20; 7:1-3). Essa verdade derruba muitas mentiras vendidas pelo mundo afora na forma de promessas de vida no céu. Por quê? Primeiro porque já vimos que, para ir para o céu, a pessoa precisa ser ungida por Deus e é Ele quem faz a escolha. Segundo, assim como o sacerdócio original, o atual sacerdócio tem a mesma função – fazer expiação pelos pecados do povo. E mais - os ungidos atuarão como “reis” no céu. Não existe rei sem súditos e um território para reinarem. Isso significa que nem todos irão para o céu porque muitos serão súditos, enquanto outros - “reis e sacerdotes”, apesar de que, neste ponto da nossa consideração, isso já está óbvio. Portanto, se há um sacerdócio, e se há reis, é porque há súditos pecadores em um território (a terra) que serão beneficiados pelo governo de Deus, cuja sede está nos céus, no qual os ungidos atuarão como reis e sacerdotes em benefício deles.
Os ungidos amam a humanidade e têm forte desejo de ver o pecado ser extirpado da terra. Eles não veem a hora de receberem de Deus a autorização para espatifar o atual fajuto sistema de coisas e exercerem seu ofício de sacerdotes em benefício dos justos. Até lá, eles cumprirão com a missão a que foram incumbidos – levar as boas novas do reino antes de vir o fim (Mateus 28:19, 20) Enquanto este não chega, a determinação deles é continuar a seguir a Cristo aonde quer que ele vá (Mateus 24:28).
[Atualização: "A garantia dada no coração dos ungidos descrita em 2 Coríntios 1:21 é o espírito santo". Desse modo, temos duas etapas, ao invés de três, a saber - a unção e a selagem. "Aquilo que virá" é a mudança do estado de carne para espírito, a recompensa dada aos ungidos fiéis.]