O júri de Elize Matsunaga, acusada de matar e esquartejar o ex-marido em 2012, foi interrompido por alguns minutos na manhã desta terça-feira após imagens de partes do corpo da vítima, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, herdeiro da Yoki, serem exibidas no plenário. Uma jurada passou mal e foi advertida pelo juiz. Elize começou a chorar e pediu para ser retirada do local.
No segundo dia de julgamento, é ouvido no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, o delegado Mauro Gomes Dias, testemunha comum do Ministério Público Estadual (MPE) e da defesa. Ele presidiu o inquérito do caso, investigado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Foi ao delegado que Elize confessou ter assassinado e depois retalhado do corpo de Marcos. A confissão foi filmada. O crime aconteceu na noite do dia 19 de maio de 2012, um sábado. “Ela conseguiu enganar a família inteira”, disse.
Uma jurada, que tem diabete, sentiu-se mal durante a exibição de partes do corpo de Marcos e foi advertida pelo juiz Adilson Paukoski Simoni. “Eu falei com a senhora antes, se conseguia participar do júri que trata de esquartejamento”, disse.
Depois, Elize começou a chorar e, por meio dos advogados, pediu para sair da sala.
“Sem tempo de dizer ‘ai’”
Elize havia acabado de voltar de uma viagem ao Paraná quando cometeu o crime. Marcos foi buscar a esposa, a filha do casal e uma babá no aeroporto e depois todos foram para o apartamento onde moravam. Há duas versões para o que aconteceu na sequência.
À época, Elize narrou que Marcos desceu para buscar uma pizza. Na volta, ela teria contado que contratou um detetive para filmar uma traição do marido e os dois teriam iniciado uma discussão. A ré contou que foi agredida com um tapa e alvo de xingamentos.
Ela teria tentado fugir do marido e alcançado a arma, uma pistola calibre 380 que havia recebido de presente de Marcos. “Você não tem coragem de atirar”, teria dito a vítima, antes de ser alvejada no lado esquerdo do crânio. O delegado, no entanto, não acredita nessa versão.
“Quando chegou com a pizza, a vítima não teve tempo nem de dizer ‘ai’”, afirmou Gomes Dias. Segundo demonstração do policial, o disparo foi feito à curta distância, de cima para baixo. Elize também já estaria com a arma engatilhada. Para a promotoria, um indício de crime premeditado. “Ele não teve chance de se defender”, disse o delegado. “Na época dos fatos, ela estava carregada de ódio”, acrescentou.
Gravações de câmeras de segurança mostram as quatro pessoas chegando ao apartamento. Depois, Marcos desce sozinho e, demonstrando irritação, chuta a porta do elevador. As imagens seguintes mostram Elize saindo do prédio com três malas, onde estava o corpo do marido, e voltando sem elas.
Os laudos médicos apontam que Marcos começou a ser degolado quando ainda estava vivo, segundo o policial. Já as partes do corpo foram jogadas à beira de uma estrada em Cotia, na Grande São Paulo. “Os animais se alimentam da carne. Era uma forma de sumir com o corpo”, disse.
Quebra do sigilo telefônico da ré mostrou que Elize esteve no local em que as partes do corpo do marido foram achadas. Após o crime, ela também trocou o cano da arma e jogou a cápsula da bala no vaso sanitário. “Ela eliminou as possibilidades de perícia. Tinha conhecimento de tiro”, disse.
Reverendo
Em depoimento, o delegado também contou que o reverendo Renè Henrique Gotz Licht, que era próximo ao casal, notou o comportamento estranho de Elize antes do crime. “Ele já havia alertado Marcos a quebrar a chave dentro do cofre onde guardavam as armas”, afirmou Gomes Dias. “Marcos, ela pode te matar”, teria dito.
Então casado e com uma filha, Marcos conheceu Elize por meio de um site de acompanhantes. Saíram juntos, trocaram telefone, viraram amantes. Marcos se separou. A cerimônia de casamento dos dois foi feita por Licht. Depois, o empresário começou a sair com outra mulher, do mesmo site de Elize. “Ela provou do próprio veneno”, disse o delegado.