Uma ressurreição de justos e injustos é um alento na alma de quem perde um ente querido na morte. A pessoa vive um estado de luto que parece não ter fim, e por mais que os anos passem, não há massagem que alivie a dor de uma perda tão grande. Mas há coisas que nunca morre em nós, a menos que ela morra com a gente. Uma delas é a ‘esperança’. Neste caso, a força que mantém a esperança viva no ente enlutado é a saudade. A saudade alimenta a esperança um dia nos reencontrarmos com a pessoa amada.
À luz da bíblia, sim, é possível e vai acontecer um reencontro entre vivos e ex-mortos, por assim dizer. O reencontro será aqui mesmo na terra, num ambiente restaurado, diferente do caos atual. A questão é: quem voltará, ou melhor, que critério o Criador usará para dar ao indivíduo morto uma outra oportunidade? Há critérios, ou todos os que já morreram voltarão a viver? Vejamos.
Ressurreição, uma promessa de Jesus
Jesus foi o primeiro a dar para a humanidade a garantia de que haverá uma ressurreição futura, e disse que tipo de pessoas voltarão à vida. Ele disse:
“Não fiquem admirados com isso, pois vem a hora em que todos os que estão nos túmulos memoriais ouvirão a voz dele 29 e sairão: os que fizeram coisas boas, para uma ressurreição de vida; e os que praticaram coisas ruins, para uma ressurreição de julgamento.
” (João 5: 28, 29)
Vemos aqui que dois grupos de indivíduos voltarão na ressurreição, classes divididas por pessoas que “fizeram coisas boas, e outras que praticaram coisas ruins”. Aqui há um detalhe curioso. Ele está nos verbos “fazer e praticar”. Um dicionário traduz o verbo ‘praticar’ da seguinte forma: “Ir adquirindo prática; realizar alguma atividade de maneira regular; fazer com que produza algum efeito, consequência; cometer, realizar”. De modo que, pelas palavras de Jesus, as pessoas que “praticaram coisas ruins” tinham um estilo de vida predominantemente mau e faziam do pecado uma prática. Elas era assim e não mudaram até o dia de sua morte. Diferente das pessoas que “fizeram” coisas boas. Quem faz coisas boas tem bondade no coração, empenha-se pelo bem comum de todos. E o que são as coisas ruins? Jesus deu uma dica ao falar de impurezas:
“Por exemplo, do coração vêm raciocínios maus: assassinatos, adultérios, imoralidade sexual, roubos, falsos testemunhos, blasfêmias. 20 Essas são as coisas que tornam o homem impuro”. (Mateus 15:19, 20a)
De modo que, pessoas que tenham “praticado coisas ruins” enquadram-se em alguns desses atos, ou ainda em outros mais graves. Vejamos como o apóstolo Paulo estendeu esse assunto por outros termos.
A ressurreição mencionada por Paulo
Indo direto ao ponto, Paulo falou da mesma ressurreição prometida por Cristo. Mas ele usou outros termos para definir quem fazia coisas boas e quem praticava coisas ruins. Ele disse:
“E eu tenho esperança em Deus, esperança que esses homens também têm, de que haverá uma ressurreição tanto de justos como de injustos.” (Atos 24:15)
Nesta versão da oportunidade do retorno à vida, é o caráter da pessoa quem a julga se ela é justa ou injusta. O que seria uma pessoa injusta? Vejamos.
Quem são os injustos?
“Ou será que vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem. Os que praticam imoralidade sexual, os idólatras, os adúlteros, os homens que se submetem a atos homossexuais, os homens que praticam o homossexualismo, 10 os ladrões, os gananciosos, os beberrões, os injuriadores e os extorsores não herdarão o Reino de Deus”. (1 Coríntios 6:9, 10).
Logo, os praticantes das coisas citadas acima entram para a categoria de injustos que não herdarão o reino de Deus. Mas como pode haver uma ressurreição de “injustos” sendo que Paulo diz no texto supracitado que esses injustos não entrarão no reino de Deus? Há contradição? Não. Por quê? Porque uma frase no texto muda tudo. É ela: “não se enganem”; ou: “não sejais desencaminhados”. Na sequência, faz-se uma lista de práticas condenáveis que exclui a pessoa de entrar no reino de Deus. E o que isso quer dizer? Quer dizer que, quem aprendeu a verdade, saiu da categoria de injustos e tem perspectiva de salvação. Entretanto, se ela volta às antigas práticas, ela está novamente sujeita à destruição. O que alguém precisa fazer para sair da condição de destruição? Paulo explica.
Saindo da condição de destruição
“E, no entanto, isso é o que alguns de vocês foram. Mas vocês foram lavados; vocês foram santificados; vocês foram declarados justos no nome do Senhor Jesus Cristo e com o espírito do nosso Deus.” (1 Coríntios 6:11)
Para sair da estrada que leva à destruição, a pessoa deve parar de praticar as coisas que Deus condena. Desse modo, a pessoa entra numa condição aprovada por Deus.
A volta dos injustos na ressurreição
Mas o assunto ainda está meio nebuloso. O ponto em questão é ‘a volta dos injustos à vida na ressurreição’. Para entendermos melhor, precisamos saber a quem Paulo estava dirigindo aquelas palavras e o seu contexto histórico na linha do tempo. O verbo ‘praticar’ ali está no tempo presente, indicando que, naquele contexto histórico havia pessoas fazendo daqueles pecados uma prática. Daí Paulo diz que alguns daqueles cristãos eram de lá, ou seja, praticavam aquelas coisas, mas que eles haviam passado por uma transformação.
Ele queria dizer que, uma vez lavados, santificados e declarados justos, quem voltasse às antigas praticas seria injusto de novo. Morrendo a pessoa naquela condição, não haveria mais esperança de salvação para ela. Por quê? Por que isso é o mesmo que ‘pisar no Filho de Deus e considerar de pouco valor o sangue do pacto que nos santifica' (Hebreus 10:29, 30). Pelo que entendemos, a fala de Paulo ali era um aviso aos cristãos ativos e aos desencaminhados. Mas isso não vale para todos.
Os incrédulos têm uma chance
Isso exclui as pessoas das nações, ou pagãs, que não conheciam a verdade. Por quê? Porque a pessoa pagã é ignorante quanto ao conhecimento exato. Por isso, ela está numa condição de injustiça. Ou seja, ela não sabe, ou não conhece, o poder resgatador do sacrifício de Cristo. Ela não teve a oportunidade de fazer as mudanças que Deus pede e, assim, estar limpa perante ele. De modo que, morrendo tal pessoa nessa condição, ela é injusta. Mesmo se ela praticou os pecados listados em Coríntios, ela estará no grupo dos injustos que Deus trará na ressurreição. Por quê? Porque as circunstâncias da vida impediram que tal pessoa obtivesse o conhecimento exato da verdade que a colocaria numa condição justa perante Deus.
É melhor viver em pecado do que conhecer a Deus?
Quer dizer que é melhor praticar o pecado e morrer sem conhecer a Deus? Negativo. Por quê? Porque atualmente está aberta as portas da oportunidade para a salvação. Quem não quiser entrar receberá o julgamento descrito em Apocalipse. Veja:
“Mas as outras pessoas que não foram mortas por essas pragas não se arrependeram das obras das suas mãos; não pararam de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de madeira, que não podem ver, nem ouvir, nem andar. 21 Elas não se arrependeram dos seus assassinatos, nem das suas práticas de ocultismo, nem da sua imoralidade sexual, nem dos seus roubos.” (Apocalipse 9: 20, 21)
As palavras acima retratam a situação das pessoas no toque da sexta trombeta de Apocalipse, isto é, o julgamento delas no fim da grande tribulação. De modo que não é vantajoso levar uma vida desregrada agora achando que vão ter uma morte natural ou acidental sem ter esse encontro com Deus naquele dia de julgamento. Mesmo porque atualmente é quase impossível a pessoa ser ignorante quanto ao conhecimento exato, visto que ele está disponível a todos no mundo inteiro e em diversos formatos da comunicação.
Deus ressuscitará assassinos?
O texto de Apocalipse citado acima fala de pessoas que “não se arrependeram de seus assassinatos”. Isso sugere que Deus pode perdoar um assassino caso ele se arrependa. Porém, a lei dada por Deus à nação de Israel dizia o seguinte:
“Não aceitem nenhum resgate pela vida de um assassino que merece morrer, pois ele sem falta deve ser morto”. (Números 35:31)
Quem era o assassino que “merecia morrer”? Era aquele que tirasse a vida do seu próximo por ódio. Toda pessoa a quem Deus adverte e, mesmo assim, atenta contra a vida alheia e mata o seu próximo, é um assassino. Veja o caso de Caim. Deus o advertiu para que ele mudasse de ideia e esfriasse a cabeça antes que ele pecasse. Ele não ouviu a Deus e matou o seu irmão (Gênesis 4:6-11). Para ele, não há esperança de ressurreição, e o resgate de Cristo não cobre seu erro. Ele foi um assassino que mereceu morrer. Também é um assassino que merece morrer todo aquele que, estando debaixo da lei de Deus, infringe ao mandamento ‘não assassine’ (Êxodo 20:13). Quem viola esse mandamento, estando consciente de sua existência, é um assassino que merece morrer.
Os que Deus destruiu voltarão na ressurreição?
Pelo visto, não, e as palavras de Jó dão a entender isso. Diz:
“Pois que esperança o ímpio tem quando é destruído, quando Deus lhe tira a vida?” (Jó 27:8)
Note que o texto fala do ‘ímpio’. O mesmo dicionário traduz o termo ímpio da seguinte maneira: “Ímpio - quem não tem fé ou despreza qualquer tipo de religião; herege. Indivíduo é contrário à religião; aquele que age com crueldade; quem não tem piedade; cruel, desumano.”
Em pelo menos 3 situações, Deus destruiu pessoas por ‘não terem fé, desprezarem a religião, ou seja, a mensagem divina, e por serem impiedosas, cruéis e desumanas. Os nefilins eram cruéis e desumanos e desprezavam a religião - quer dizer, os avisos de Deus. As pessoas de sua época também não tiveram fé e manifestaram seu desprezo pela reverência à Deus. Por isso Deus as destruiu (Gênesis 6:4-7,13; 7:1).
Os habitantes de Sodoma e Gomorra também não respeitaram as coisas sagradas, tentando até estuprar os anjos, representantes de Deus. A impiedade delas as levaram à destruição (Gênesis 19:4,5; 12-17). Corá não demonstrou respeito por coisas sagradas e agiu com falta de fé. Deus destruiu ele e mais 250 homens por aquele desrespeito (Números 16:23-35). Para todos esses casos, mesmo que as palavras de Jó sugiram que não há esperança para elas, a decisão final caberá a Deus dar ou não a elas uma outra chance.
Para quem vai ou está na Geena não haverá ressurreição
Está na Geena, ou no fogo eterno - estado de morte sem esperança -, todo aquele que pecou, está pecando e pecará contra o espírito santo de Deus. Pecar contra o espírito é ‘negar a ação do espírito de Deus’, mesmo vendo com seus olhos as evidências de sua manifestação. E por que esse pecado é tão grave? Porque envolve ‘enganação’, um artifício abominável por Deus.
Imagine a pessoa que tenta negar a eletricidade e todos os seus benefícios, estando ela em operação. As luzes dos postes estão acesas, tvs, computadores, geladeiras, ar-condicionados, celulares e muito mais, tudo isso funcionando pela força da energia elétrica e o indivíduo negando, ou pior, tentando fazer as pessoas crerem que o mérito por isso não se deve à eletricidade porque, segundo ele, "é tudo mentira. Não existe eletricidade coisa alguma”. É claro que o propósito desse sujeito é enganar, perpetuar a desinformação. Não haverá esperança de salvação, e nem de ressurreição, para pessoas assim, que negam a ação do espírito santo. Como alguém pode ‘pecar contra o espírito santo’?
Quem peca contra o espírito santo?
Quem peca contra o espírito santo age de forma contrária aos frutos do espírito. Quais são os frutos do espírito? São:
“Por outro lado, o fruto do espírito é: amor, alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fé, 23 brandura, autodomínio. Contra tais coisas não há lei.” (Gálatas 5:22,23)
Traduzindo, quem manifesta os frutos do espírito obedece aos dois maiores mandamentos ensinados por Jesus, e quem não manifesta os frutos desse espírito, desobedece a esses mandamentos (Mateus 22:36-40). Por isso não há esperança pra quem peca contra o espírito santo.
A história contada no início do artigo retrata a condição de bilhões de indivíduos que agora descansam no pó. Algumas agiram por fraqueza, imaturidade, falta de conhecimento, e por isso fizeram coisas das quais mais tarde se arrependeram. Para elas, o final da história pode ser feliz: uma vida satisfatória em um planeta restaurado com condições perfeitas. Tudo dependerá do que elas serão no dia do juízo, isto é, se mostrarão ser justas ou injustas no reinado milenar de Cristo.